Nessa terceira parte da nossa série sobre Mordomia Cristã, você vai aprender sobre como era a prática do dízimo no antigo e no novo testamento, e como pode ser aplicado em nossos dias.
O Que é o Dízimo?
O dízimo é a prática de oferecer a Deus um décimo da renda ou propriedade de uma pessoa. Esse costume remonta a tempos muito antigos e era comum entre diversas nações da antiguidade.
O Dízimo no Antigo Testamento
O primeiro registro do dízimo na Bíblia aparece em Gênesis 14:17-20. Após resgatar Ló e derrotar seus inimigos, Abraão encontrou Melquisedeque, o “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo”. O texto relata que Abraão deu a Melquisedeque o dízimo de todos os bens obtidos em batalha.
Mais tarde, o autor do livro de Hebreus explica que os sacerdotes levitas, descendentes de Abraão, simbolicamente pagaram dízimos a Melquisedeque por meio dele. Não há, contudo, registro de que Abraão tenha recebido alguma ordem para dar o dízimo ou uma explicação para sua decisão.
Sob a Lei de Moisés, o dízimo foi prescrito com detalhes. Em Levítico 27:30-32, o dízimo deveria incluir a semente da terra, o fruto das árvores e um em cada dez animais dos rebanhos e manadas. O propósito principal era suprir as necessidades materiais dos levitas, estrangeiros, órfãos e viúvas (Deuteronômio 26:12-13). Além disso, o dízimo era uma expressão de gratidão e reconhecimento de que Deus é o dono de toda a terra.
O Dízimo no Novo Testamento
No Novo Testamento, a palavra “dízimo” aparece apenas seis vezes (Mateus 23:23; Lucas 11:42; 18:12; Hebreus 7:5-6, 8-9), sempre em referência à prática judaica ou às passagens do Antigo Testamento. Em nenhuma parte os cristãos são explicitamente ordenados a dizimar.
No entanto, o princípio da generosidade é enfatizado. Somos chamados a compartilhar nossas posses com os pobres e apoiar o ministério cristão. Jesus é nosso exemplo máximo: dar é uma atitude voluntária e deve ser feita com disposição e contentamento. Contribuir deve ser uma expressão de gratidão e não uma obrigação restrita a dez por cento.
O Exemplo da Igreja Primitiva
A Igreja de Atos era composta majoritariamente por judeus, para quem o dízimo já era uma prática comum. Contudo, ao compreenderem que Jesus entregou Sua vida pela humanidade, foram movidos pelo Espírito Santo a ofertarem não apenas parte, mas tudo o que tinham.
Eles passaram a viver com o propósito de acumular tesouros nos céus, em vez de se preocuparem com posses terrenas. Esse exemplo demonstra que o verdadeiro sentido de ofertar está em fazê-lo com honra, fé e um coração generoso.
Dízimo: Colocando Deus em Primeiro Lugar
A palavra “dízimo” significa mais do que doar a décima parte; está relacionada ao conceito de primícias, ou seja, os primeiros frutos, o primeiro lugar. Como descrito no Dicionário Aurélio, primícias são os primeiros lucros, sentimentos ou produções.
As Escrituras nos ensinam a importância de entregar a Deus o melhor e o primeiro de tudo o que recebemos:
“Honre o Senhor com os seus bens e com as primícias de toda a sua renda; e os seus celeiros ficarão completamente cheios, e os seus lagares transbordarão de vinho.” (Provérbios 3:9-10)
A Provação do Coração
O número dez, associado ao dízimo, simboliza provação na Bíblia. Essa prática foi instituída por Deus para testar nossos corações, especialmente em uma área onde muitos enfrentam dificuldades: as finanças.
Exemplo Prático
Considere uma pessoa que recebe um salário de mil reais por mês. Ao receber o pagamento, geralmente a prioridade é pagar contas e fazer compras. Somente depois é separado o dízimo para o Senhor.
Essa ordem revela algo importante: Deus está realmente em primeiro lugar na vida dessa pessoa? O dízimo deve ser a primeira atitude do coração, um ato de fé e obediência que demonstra confiança de que Deus proverá tudo o que precisamos.
Se priorizarmos nossos compromissos financeiros antes de honrar ao Senhor, comunicamos, ainda que inconscientemente, que não confiamos completamente em Sua provisão.
A Primeira Parte é Redentora
De acordo com Êxodo 13, a primeira parte de tudo o que recebemos é santa e tem o poder de redimir o restante. Paulo reforça esse princípio em Romanos 11:16:
“Se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são.”
O dízimo, como as primícias, é a primeira parte que entregamos a Deus, reconhecendo Sua soberania e consagrando todo o restante que Ele nos concede.
Conclusão
O dízimo é muito mais do que uma obrigação; é um princípio, ato de honra, fé e confiança em Deus. No Antigo Testamento, ele simbolizava gratidão e reconhecimento de que Deus era o dono de tudo. No Novo Testamento, embora não seja explicitamente ordenado, a generosidade e o desprendimento são princípios claros.
Dar ao Senhor a primeira parte de tudo o que recebemos é um gesto que demonstra nossa confiança em Sua provisão e nossa disposição de colocá-Lo em primeiro lugar. Ao praticar o dízimo, não apenas obedecemos a Deus, mas exercitamos um coração generoso e investimos no avanço do evangelho.